
Reportagem
Alícia Santos
Carolina Neris
Olívio Candido
Santina Vitória
Fotografia
Carolina Neris
Santina Vitória
Direção de Arte
Carolina Neris
Santina Vitória
De Maçaio-k à
mcz
É possível viajar pelas antigas ruas do Jaraguá e do centro de Maceió, conhecer os costumes da nova capital do estado, como funcionava a sociedade de décadas atrás com sua cultura canavieira e oligárquica. É possível também encontrar a aridez do sertão, a secura, as dificuldades, as delícias e dificuldades dos rincões do estado. Dá para fazer tudo sem sair de casa, nas páginas dos clássicos da literatura alagoana. Porém, mais que os costumes e paisagens locais os escritores alagoanos, do passado e presente, permitem um mergulho nas questões da alma e relações humanas. Contudo nem só de passado vive a literatura Caeté. Viva a e pulsante a produção literária atual permite ao leitor reflexões contemporâneas profundas com suas narrativas nos espaços urbanos do litoral ao sertão, conflitos pessoais, a voz a da mulher e das minorias nos contos, poemas e romances.
Para um panorama da literatura alagoana entrevistamos o doutor em estudos literários e também escritor Milton Rosendo. Confira:
Quem são os autores clássicos e que merecem destaque. Aqueles que todo alagoano deveria ler e por quê?
Há que se pensar, em se tratando de literatura alagoana, primeiramente, em dois nomes fundamentais: Graciliano Ramos e Jorge de Lima. Graciliano, indiscutivelmente, pela maneira como manuseia a linguagem com precisão e clareza, além da forma como mergulha nas angústias e mesquinharias da alma humana. É um mestre absoluto da narrativa. Jorge de Lima, autor mais heterogêneo, é um dos mais hábeis cultores do ritmo na poesia brasileira. É um poeta inquieto, pesquisador da riqueza vocabular de nosso idioma, um explorador do caráter plástico das imagens. O aspecto algo místico e visionário de sua poética o levou a criação do épico Invenção de Orfeu, talvez o mais radical poema das letras nacionais. Também destacaria o lirismo e a crueza de Lêdo Ivo, o minimalismo existencial de Jorge Cooper, a experimentação concreta de Edgar Braga, a musicalidade dissonante de Djavan e o domínio da técnica narrativa de Dirceu Lindoso e Breno Acioli.
Quais as características, traços marcantes da literatura alagoana? Quais são os clássicos (livros)?
Não há na produção literária local um traço nitidamente distintivo. Nesse sentido, somos mais ricos, sob certo aspecto da variedade, do que outros estados. A nossa literatura tem um amplo espectro e abraça as mais diversas tendências. Das grandes obras publicadas, há aquelas que considero compromisso inadiável de leitor: Vidas Secas e São Bernardo, do Graciliano Ramos; Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima; Ninho de Cobras, do Lêdo Ivo. São leituras arrebatadoras.
Dos autores contemporâneos quem você indica?
Essa pergunta é sempre espinhosa, (risos) porque podemos incorrer em não citar alguém, de modo a injustiçá-lo. Sou um costumeiro leitor da literatura produzida em Alagoas. Gosto de acompanhar o que estão escrevendo os meus colegas. Vou discorrer sobre apenas alguns dos que considero bastante representativos para a nossa literatura. Temos a Amanda Prado, que é uma escritora de uma maturidade técnica impressionante, de uma profundidade lírica e filosófica. O Richard Plácido tem umas imagens viscerais, poesia que não foi feita para acariciar. O Felipe Benício é um autor de múltiplas formas, versátil, inquieto, pesquisador. O Magno Almeida é de um lirismo assombroso, intuitivo, pulsante.
CRÍTICA LITERÁRIA
De acordo com o crítico literário Antônio Cândido a literatura é um aspecto orgânico da civilização, mas para ser reconhecido como tal precisa apresentar três pilares sólidos: a existência de um conjunto de produtores literários (os escritores), mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando os diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor que liga uns aos outros. Para Cândido quando a atividade dos escritores de um dado período se integra nesse sistema, ocorre outro elemento decisivo: a formação da continuidade literária. Sem essa tradição não há literatura.
Um elemento forte que perpetua a tradição literária é a crítica literária. Num primeiro momento da literatura alagoana os suplementos literários cumpriam esse papel, tanto para o fomento e divulgação como para o espaço de crítica, em que as obras eram apresentadas e analisadas. Um dos grandes críticos e curadores da nossa literatura foi o Poeta e jornalista, Carlos Moliterno. Durante as décadas de 40 e 50, Moliterno esteve à frente das páginas literárias dos grandes de jornais da época. Um dos resultados do seu trabalho é a obra notas sobre poesia moderna em Alagoas em que ele traz o perfil dos principais poetas alagoanos que despontaram no modernismo.
A época dos suplementos literários passou e a produção literária continuou. Porém, se antes os leitores e escritores sabiam exatamente onde encontrar as indicações de leituras e críticas literárias, agora, a tarefa de informar-se sobre a literatura local já não é tão fácil. O espaço para crítica nos jornais praticamente desapareceu, sendo a literatura destaque apenas vez ou outra nos cadernos de cultura.
A crítica literária recolhe-se hoje em espaços como blogs pessoais, ou ensaios postados nas redes sociais e impressões compartilhadas em cursos de produção escrita ou coletivos de leitura. A academia também é um espaço onde a crítica é produzida, porém circula apenas entre os acadêmicos na maioria das vezes.
Para o escritor Lucas Litrento, a ausência de uma crítica literária especializada mais presente é reflexo do modo como a arte é tratada no estado “o modo como se trata a arte aqui também raízes no coronelismo. Não existe a crítica porque o que se pode fazer é elogiar os grandes. E a arte aqui quando é mais visibilizada é feita pelas pessoas da elite, essas pessoas acostumadas com a bajulação, são bajuladas e isso se reflete na literatura. São pessoas escrevendo elogios sobre os amigos não de forma crítica”, afirma.
DICAS DE LEITURA
Em meio às apurações para a reportagem tivemos contato com obra de vários ícones da literatura alagoana. Dentre esses selecionamos 8 poetas dos que mais gostamos para recomendar a leitura. Toque nas imagens para ouvir uma poesia da obra:








Além dos poemas recomendamos também a leitura das obras de Breno Accioly, contista alagoano aclamado pela crítica nacional. Em seus textos ele trabalha as profundezas e artimanhas da alma humana.
Os coletivos de leitura estão cada dia mais populares na sociedade devido a sua importância cultural, pois dentre outros exercícios, os participantes discutem os títulos escolhidos, indicam outros e até trazem textos para análise do grupo. Instituições de ensino como a Universidade Federal de Alagoas trazem a atividade como forma de incentivo à leitura. Em Maceió, Coletivos femininos como o Leia Mulheres, ou com escritores conhecidos, como o Ofélia e Pernoite, tornam o momento de leitura ainda mais prazeroso .
Porém, apesar da rica importância social, uma das maiores dificuldades desse tipo de projeto ser implementado em outras instituições e espaços, vem da não oferta de locais seguros e que ofereçam conforto para a prática, o que torna o número de frequentadores menor que o esperado pelos idealizadores.
Richard Plácido, um dos membros do Coletivo Ofélia nos contou como o Projeto surgiu e o caminho que ainda precisa percorrer para que a atividade atinja outros públicos.
Richard Plácido é graduado em Letras pela Ufal e é Mestre em Estudos Literários pelo PPGLL/Ufal, além de participar de encontros que tratam de Literatura Brasileira Contemporânea e Estudos Críticos da Utopia. O autor de Entre Ratos e Outras Máquinas Orgânicas lançou na 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, uma produção artesanal do Coletivo Ofélia que leva poesia dos seus membros.Vale a pena conferir.





LITERATURA S/A
Apesar de ser uma terra de escritores, Alagoas não é uma terra de editoras. Apenas 3 funcionam atualmente. A trindade das editoras é composta pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), a Editora do Centro Acadêmico de Maceió (Cesmac) e a Editora da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. As editoras universitárias cobrem o campo das publicações de viés acadêmico, enquanto a Graciliano Ramos cobre o território da literatura.
Criada em 2007, a editora da Imprensa Oficial Graciliano Ramos é responsável pela edição e publicação de livros e revistas produzidos por autores alagoanos ou radicados em Alagoas, com objetivo de contribuir para o desenvolvimento sociocultural no Estado. Seu catálogo, que conta com mais de 140 títulos, traz obras de diversos gêneros e para os mais diferentes leitores. A poesia é o grande carro chefe das publicações, seguida dos romances e contos. A editora tem, entre suas atividades, a edição da revista cultural Graciliano, concursos culturais, publicação de reedição de obras alagoanas importantes e ações de incentivo à leitura, como contações de histórias para crianças.




Nesses 12 anos de existência, a editora já soma 31 edições da revista Graciliano Ramos, das quais três edições trazem homenagens a literatura alagoana. a revista nº15 que aborda o centenário do poeta Carlos Moliterno, a nº 18 Sobre Graciliano e a edição nº21 sobre a Jorge de Lima. Além das revistas e dos livros selecionados por editais, a editora tem feito o resgate de obras históricas como Ninho de Cobras e Calabar de Lêdo Ivo, e Tântalos e Os Devassos de Romeu de Avelar que estavam fora de circulação há quase 100 anos.
De acordo com o diretor-presidente da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, é missão da instituição resgatar obras históricas para a literatura de Alagoas. “Como órgão público, queremos tornar públicas e conhecidas obras dos grandes nomes da nossa literatura. Outras obras clássicas estarão no nosso catálogo e nossos livros clássicos, tanto da coleção raízes de Alagoas, quando Tantalos e Calabar e Os Devassos estarão presentes na próxima edição da Bienal de São Paulo. E estarão presentes nas bibliotecas das escolas do Estado de Alagoas”.
Para a Coordenadora Editorial Patrycia Monteiro, a editora da Imprensa Oficial Graciliano Ramos desempenha um papel de destaque no fomento da literatura alagoana: “Boa parte desses livros que temos no catálogo, se não houvessem sido publicados aqui, talvez não fossem publicados, já que fora a imprensa oficial, há apenas editoras universitárias no estado”, ressalta.

EDITAIS QUE ABREM PORTAS
O primeiro dos editais a ser concebido pela editora da Imprensa Oficial Graciliano Ramos foi para publicação de obras literárias. Podem ser submetidas obras de poesia, conto, romance, crônica e ensaio, que são os gêneros literários. O edital é uma rica oportunidade para revelar autores alagoanos como no caso da poeta Natasha Tinet revelada pelo edital em 2018, e que ganhou o 2º lugar na categoria poesia do Prêmio da Biblioteca Nacional deste ano. A expressividade do prêmio consagra Natasha no cenário nacional e também traz visibilidade para a produção literária alagoana.
A premiação foi recebida com celebração pela autora: “Eu disputei com nomes muito grandes da literatura, da poesia, que já são bem estabelecidos. Ficar atrás só do Paulo Henriques Brito, que um é dos maiores poetas do país, e ver que o primeiro livro conseguiu ter essa classificação, eu fiquei muito feliz! Também fiquei feliz do terceiro lugar ser Francisco Malman também, que é um amigo meu aqui de Curitiba, então, ganhou mais significado, ganhou mais importância”. A escritora alagoana, natural de Palmeira do Índios, iniciou seus trabalhos de escrita no universo da internet entre 2008 e 2013. Teve dois blogs: “sai de mim” e “bomba&brigitbardot” em que compartilhava crônicas e relatos da vida cotidiana. Nessa época, ainda não escrevia poesia e nem tinha pretensão de ser poeta. Apesar de ser uma dedicada de leitora de poesia.
O edital para publicações de obras literárias é dos mais aguardados pelos autores atuais e tem uma nobre função como destaca o escritor estreante Lucas Fonseca: “O edital desponta como incentivo fundamental à publicação de obras de escritores alagoanos. Contar com a oportunidade oferecida e, aqui, entenda-se: contar com avaliação altamente especializada, seleção criteriosa e qualidade do produto final impresso, é saber que há, em Alagoas, incentivos sérios que intentam fortalecer a literatura local, com qualidade de serviço prestado que não está, sob nenhuma hipótese, aquém daquela vista no mercado editorial nacional. O edital é pedra angular no fortalecimento cultural do Estado de Alagoas”.
SESC ALAGOAS E SUA CONTRIBUIÇÃO
O Serviço Social do Comércio - Sesc, atualmente com 74 anos, é um dos principais incentivadores da literatura no Brasil, através de seus programas e editais. Há mais de 10 anos, seu papel também é o de investir na formação e descoberta de novos escritores no estado de Alagoas. Por esse motivo, em diversos eventos literários e que envolvam outras demonstrações culturais, será fácil encontrar seu espaço de compartilhamento. A programação do Sesc em 2019 foi marcada pelo Circuito de Autores e o Circuito de Criação Literária, ambos com presença de escritores de todos os lugares do Brasil. Os circuitos foram gratuitos e contemplaram três cidades de Alagoas: Maceió, Palmeira dos Índios e Arapiraca.
O Literatura em Maceió, durante a Bienal Internacional do Livro de Alagoas entrevistou Guilherme Ramos, analista de literatura do Sesc Alagoas, e um dos principais articuladores dos projetos literários que a instituição organiza, dentre eles o Arte da Palavra. Ramos nos contou um pouco sobre a evolução desse projeto.
Literatura em Maceió – Como que o Arte da Palavra começou?
Guilherme Ramos – O projeto se chamava Pé de Página, e ele atuou em quatro estados do Brasil: Alagoas, Tocantins, Ceará e Sergipe. Nós precisávamos saber como que seria uma circulação literária de grandes proporções e o projeto ocorreu de 2016 até 2017.
O que ocorreu nesses primeiros anos de Pé de Página?
Em 2017 nós fizemos o encontro nacional, onde estiveram vários técnicos do Sesc de todo o Brasil. Foi feito uma grande curadoria e nós selecionamos quase 100 escritores e escritoras para poder representar cada estado. Normalmente, cada estado tinha pelo menos um representante para que ele pudesse circular em outros estados do Brasil para mostrar essa diversidade literária. O pessoal que estava no sul ia para o norte, quem estivesse no norte vinha para o nordeste e quem estava no nordeste ia para o centro-oeste.
O projeto passou por mudanças?
O projeto que antes era apenas bate-papo com escritores, com mesas redondas e palestras terminou criando três caminhos possíveis: O Circuito de Autores, O Circuito de Criação Literária e o Circuito de Oralidades.
Quais são as características de cada circuito?
O Circuito de Autores são mesas redondas, de preferência um bate-papo com escritores de diferentes regiões, para que eles possam mostrar o seu processo de escrita e criação, que é uma curiosidade do público. O Circuito de Criação Literária, são oficinas, cursos literários de uma média de 20 horas aula. Os alunos aprendem técnicas de conto, escrita criativa e poesia. O Circuito de Oralidades é uma forma de mostrar que a literatura ela sai do livro, ou seja, são narradores de história, são apresentações lítero-musicais que misturam literatura e música e por ai vai… Com esses três circuitos nós avançamos para 2018 e 2019.
Com que incentivos o projeto se mantém?
O projeto é feito pelo departamento nacional do Sesc em parceria com os departamentos regionais, nesse caso, o de Alagoas. O departamento nacional entra com o valor, o departamento regional de Alagoas entra com outro valor, fica meio a meio e a gente divide as responsabilidades e as finanças. Não há, até agora, nenhum patrocínio externo, a não ser quando fazemos uma parceria com um espaço.
Quais outros projetos o Sesc também acompanha?
Em 2014 foi criado o laboratório Sesc de criação e expressão literária que era um curso de 8 meses de duração e que ele tinha objetivo ensinar técnicas de criação literária apenas em prosa. Os alunos passavam 8 meses escrevendo contos. De 2014 até 2018 o curso continuou dessa forma, mas ele diminui de 8 para 6 meses por questões de logística.
Como está o curso atualmente?
Em vez de um curso de 6 meses, nós preferimos fazer dois cursos, 3 meses de prosa e 3 meses de poesia, porque o público pedia muito atividades de poesia e nós estávamos com pouca possibilidade, então nós terminamos fazendo esses 3 meses de prosa e os 3 de poesia. O de poesia já começou com uma vantagem, porque ele terminou e os alunos já estão fazendo um fanzine com poesias que foram criadas durante o curso.
Vocês também tem projetos em escolas, certo? Como funcionam?
Nós também cedemos espaços para escolas da rede pública com trabalho de saraus e literatura. Nós acreditamos que esse trabalho sendo feito em escolas prepara os alunos para descobrir que a literatura não é só uma disciplina, uma matéria para passar no vestibular. Mostramos que literatura é uma arte como o cinema, teatro, dança e as artes visuais. A literatura tem que ser vista como arte, tirar da cabeça que literatura é chata. Como ela pode ser chata se ela faz você criar um mundo na sua cabeça e que você tem acesso a esse mundo da sua forma. O escritor faz uma história e você vê essa história como quiser. Por isso nós sempre apoiamos escolas para que a gente possa fazer esses trabalhos.
Além desses projetos há outros que o Sesc apoia?
Já teve vários outros projetos que a gente realizava ou apoiava, mas estamos nos estamos dedicando muito tempo ao laboratório, porque exige um trabalho pedagógico e esse apoio cultural nas escolas, tem o Arte da Palavra e uma vez no ano nós fazemos a Jornada Sesc de Literatura.
Como funciona a Jornada Sesc de Literatura?
Uma semana inteira de oficinas literárias pela manhã, palestras e grupo de trabalhos com palestrantes pela tarde e pela noite saraus e apresentações lítero-musicais.
Como você definiria os projetos do Sesc?
Nós entendemos que nós conseguimos atender desde o público estudantil, criança, adultos e terceira idade, aquele que escreve e aquele que quer escrever. A ideia é que nós façamos um pouquinho de cada coisa, descubra os públicos que estão crescendo para dar um foco maior neste grupo, sem deixar o outro de lado. Nós vamos exercitando aquele que escreve a técnica de escrita para que ele se torne o palestrante, oficineiro de amanhã e quem sabe ele não circula nacionalmente por conta de um incentivo que recebeu enquanto iniciante.
Em 2020, o Sesc já está se preparando para o primeiro evento do ano, o Prêmio Sesc de Literatura, os interessados podem enviar seus contos e romances para concorrer ao prêmio. Os vencedores irão publicar suas obras na Editora Record, com tiragem inicial de 2 mil exemplares. As inscrições encerram no dia 20 de fevereiro.

LITERATURA INFANTIL
Criada em 2010, a coleção Coco de Roda seleciona por meio de edital histórias que prestem uma homenagem à cultura, cidades ou personalidades alagoanas. Já são 31 livros na coleção que tem sido adotada em escolas da rede pública e privada de Maceió, e desperta na criançada o gosto pela leitura e o apreço pela cultura alagoana. “A Coco de Roda é um dos nossos grandes sucessos editoriais. É um dos editais mais esperados e concorridos... Foi muito bom constatar que em Alagoas não apenas há um público aberto e receptivo à literatura infantil, mas também escritores competentes para construir narrativas para esse público”, Patrycia Monteiro, coordenadora editorial.
Poeta, jornalista, editora, tradutora, entusiasta da arte e devoradora de literatura, a escritora maceioense Natália Agra estreia no universo da literatura infantil. Sua obra Os Balões de Nise foi uma das selecionadas no edital da coleção Coco de Roda 2019. Fascinada pela vida e trabalho da psiquiatra Nise da Silveira, a autora presta uma terna homenagem à médica alagoana. Na história, Nise, ainda criança, viaja em seus balões de sonho, vive aventuras e desperta para o cuidado com as pessoas. O livro fala da importância da alteridade da invenção de um mundo melhor. Residindo atualmente em São Paulo, Natália conta que permanece atenta a produção alagoana “ tenho acompanhado o trabalho da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Que, acima de tudo, apoia e resgata muita coisa boa que estava escondida. Dentre os trabalhos publicados, destacam-se, para mim, os livros da Amanda Prado, Bruno Ribeiro, Fátima Costa, Magno Almeida e Richard Plácido. Vida longa à IOGRAM!”.
O sucesso da linha editorial é tanto que a editora pretende lançar mais dois editais no próximo ano: um para literatura juvenil e outro de quadrinhos. “A cada novo edital da Coco de Roda percebemos que muitas histórias submetidas teriam um apelo maior para o público Juvenil. Acreditamos também que há em Alagoas escritores capacitados para explorar o gênero quadrinhos”, aposta a coordenadora editorial.


Marivaldo Omena. Autor do livro


LITERATURA INDEPENDENTE
Editais prestam um excelente serviço à literatura alagoana. Porém, suas poucas vagas não contemplam a necessidade, crescente, dos autores locais. Quando a única editora do Estado não consegue abranger as demandas, surge um novo caminho: a independência. Alguns autores escolhem publicar por conta própria, como é o caso de professor Universitário, Erico Abreu, autor de 4 livros, e que nunca recebeu nenhum incentivo público ou privado para as suas publicações. O escritor comenta os benefícios e dificuldades de ser um autor independente: “Publicar ficou mais fácil com a internet, os novos autores já não mendigam à porta das editoras. O problema agora é como ser divulgado e lido sem cair nas armadilhas do mundo digital”. Buscar alternativas para popularizar qualquer ação cultural é válida, ainda mais evidente quando se trata de literatura nordestina.
Ainda sobre as dificuldades em produzir conteúdo literário sem incentivo, o Literatura em Maceió bateu um papo com o Jornalista e Escritor, Jean Albuquerque (32) que, da mesma maneira que Érico Abreu, também procura inserir suas obras no mercado. Mas Jean encontrou outra alternativa, a idealização e administração de uma editora independente. Ouve aí!
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Sirva-se
O Sirva-se é um projeto de jornalismo independente no estado de Alagoas, idealizado pelo Jornalista, Jean Albuquerque e dois autores independentes: E. Mattüs e José Luiz Buzugu, entre os anos de 2006-2008. A proposta era fazer a cobertura em cena do estado, através da literatura. Por ter se constituído uma marca forte para consumidores de mídia alternativa, o grupo deu início à Editora para publicação de obras.
Para que as produções sejam realizadas e publicadas, os autores, quando trazem obras individuais, administram toda de financiamento. De acordo com Albuquerque, questões da produção criativa e editorial passam por análises coletivas que visam resultados em consenso. Para ele, “o importante em confeccionar o próprio livro é que isso traz uma relação com o público”. Mas, Jean destaca as dificuldades do processo e as barreiras do mercado, “lidamos com as problemáticas de distribuição das obras, pois muitas vezes são feitas por amigos que sabem que você produz; através de rodas de conversas e palestras sobre os temas, o consumo por outros leitores é mais escasso.
Além das dificuldades para atingir o público leitor, os autores precisam seguir caminhos mais longos para que seus livros cheguem às livrarias. Quando a oportunidade surge, eles precisam formar parcerias com outros escritores, selecionar as temáticas que cada um irá assinar, além de pedir colaboração de amigos para avaliação e revisão dos textos. Segundo Jean, para que seu segundo livro Os Deuses Estão Embriagados Com Uísque Falsificado (adicionar o link na matéria, dentro do nome) fosse publicado, ele precisou da ajuda de outros colegas de profissão, “eu cortei muita coisa, recebi ajuda para revisão, coloquei poemas que eu já estava escrevendo há um tempo, chamei um amigo meu que é Doutor em Literatura pra escrever o prefácio. Trabalhar independente é trabalhar com colaboradores”.
CONSUMO LITERÁRIO
Livros são vendidos, livros são comprados. De acordo com informações obtidas por duas grandes livrarias de Maceió, cerca de 5 a 10 mil livros são comprados anualmente. Essa base foi feita a partir de entrevistas a livraria leitura e a livraria Maceió via ligações. "Mesmo em meio a entrada dos livros virtuais as pessoas ainda preferem obter o objeto", conta Wagner Lamenha.




Na ponta da língua
Na palma da mão
Diariamente são produzidos centenas de livros no Brasil, para os mais variados gostos, idades, sexos e classes econômicas. Mas o que se destaca é a quantidade de bibliotecas existentes em Alagoas. Cerca de 10 bibliotecas particulares e apenas uma pública, que fica localizada no Centro de Maceió. Quando feita uma pesquisa em duas bibliotecas privadas procurando saber à quantidade de livros que são vendidos, quais os gêneros mais procurados e se com a entrada da internet houve quebra nas vendas, conseguimos obter as seguintes informações:




Quando questionada sobre a atual situação da biblioteca pública Graciliano Ramos, a estagiária e acadêmicos em biblioteconomia, Tainara Cristina, comenta que a biblioteca tem um público bem diversificado, que muitas pessoas vão anualmente, entre essas pessoas estudantes, pesquisadores, historiadores, recebemos escolas infantis, do ensino médio. Sendo mais utilizado como espaço de pesquisas e como lugar de concentração para quem vai estudar para concursos e etc.
Ao ser questionado também sobre qual o tipo de gênero mais procurado, Tainara responde que o público procura por gêneros bem diversificados “tem gente que vem procurando leitura para casa, por exemplo, romance, ação... e tem aquele público que já vem procurando algo específico, como livros de direito, medicina. Mas aqui vem muitas pessoas em busca do acervo alagoano”.
Uma coisa curiosa é que a biblioteca conta também com o “bibliotur". Para quem não sabe do que se trata a estagiária fala que é um tipo de visitação onde o estagiário que estiver no horário irá falar um pouco sobre o prédio, mostrar todos os acervos, onde passeiam pelos dois andares, e no final fazemos um recital de poesias, dependendo do público e da idade, pois se for menorzinho tem um momento de contação de histórias.
O que também chama atenção é que, mesmo sendo algo gratuito e de riqueza em acervos, com salas para pesquisas, salas de estudos e Wi-Fi para o público, em alguns períodos e dias específicos a biblioteca se encontra vazia. A resposta logo vem da própria Tainara “talvez seja por causa da climatização" segundo a mesma no período matutino a biblioteca se torna um lugar muito quente.
Recebendo todos os públicos sem a necessidade de agendamento antecipado a biblioteca funciona de segunda a sexta-feira, das 09 às 17 horas.

PALCO DE ENCONTROS
Consagrada como o maior evento literário e cultural de Alagoas, a Bienal Internacional do Livro teve, em 2019, a sua 9ª edição. Organizada pela Universidade Federal de Alagoas a proposta do evento é fomentar a paixão pela leitura, conhecimento, pesquisa e cultura. Além disso, a Bienal funciona como um grande palco para a literatura alagoana, pois o local onde o público e os autores se encontram: há lançamentos de livros, oficinas de escrita e produção literária, de diagramação, contação de história entre outras atividades. A cada dia do evento é possível perceber o quanta a literatura alagoana é rica e viva.
Neste ano, além de trazer todos os elementos educacionais e culturais das demais edições, a Ufal em parceria com outras entidades públicas e particulares, proporcionou ao público a oportunidade de participar de uma Bienal democrática e acessível, pois levou o evento às ruas de um dos bairros mais populares e históricos de Maceió, Jaraguá.
Conversamos com a magnífica reitora da Ufal sobre a edição inovadora da 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Assista o vídeo:


ESTANTE
DISPONÍVEL
Ponto de referência na compra de livros e antiguidades, os sebos atraem leitores, estudantes e amantes da música. Comumente conhecidos como alfarrábios, os sebos surgiram em meados do século XVI na Europa, época em que os mascates vendiam papiros e documentos antigos. Por vender artigos antigos, os mascates ficaram conhecidos como alfabarristas, nome que é utilizado até hoje em algumas regiões da Bélgica e França.
O surgimento do nome sebo é mais curioso, e vem de épocas remotas, em que nem sequer existia luz elétrica. Para ler, os leitores precisavam acender velas feitas de gordura e na medida em que essas velas derretiam, sujavam e engorduravam os livros, cunhando e popularizando o termo sebo. Em Maceió, há um notório alfabarrista do século XIX, Edvaldo José Pereira, dono do sebo Escritos e Discos trabalha há mais de 20 anos com venda de livros e vinis. O comerciante nos contou passos de sua trajetória.
Edvaldo chegou no Alfarrábio na década de 80 e sua primeira aquisição no local foi um box que ainda existe e fica colado ao paredão da Assembleia Legislativa de Alagoas. Posteriormente, nos anos 90, o comerciante mudou-se para um imóvel do outro lado da rua e que permanece até os dias atuais. Sobre seus primeiros anos, Edvaldo nos conta que o movimento antes dos anos 2000 era um dos melhores, 10 livros eram facilmente vendidos durante o dia. Ele ainda afirma que essa queda caiu significadamente após os anos 2000 e que atualmente, o que mantêm o seu negócio não são mas os livros, mas os vinis que atraem colecionadores e entusiastas da música.
Para Edvaldo, essa queda não está relacionada à chegada de grandes livrarias na Capital. “A abertura de grandes livrarias como a Leitura não nos afeta porque são públicos diferentes. Quem vem ao sebo já vem sabendo o que quer”. Há uma resposta que pode explicar essa queda, é inegável que o avanço da tecnologia mudou e está mudando o mercado de livros, hoje, leitores de todo o mundo compram e consomem digitalmente suas leituras.
Novas possibilidades
Você já deve ter ouvido falar em Estante Virtual, ela é uma das maiores plataformas de venda de livros do Brasil. O site oferece alternativas para que os consumidores comprem barato e que os alfabarristas nacionalizem o seu negócio regional, apenas sendo necessário cadastrar o seu estabelecimento e registrar o seu acervo para começar a vender pela internet.
Criado em 2006, a Estante Virtual tem sido ferramenta tem sido um aliado para atenuar a crise de venda de livros. “Livro novo é o que você ainda não leu”, é o slogan da empresa que busca repaginar essa nova forma de vender livros. O site é um agregador de vários sebos de todo o Brasil e Bianca Honorato, do Rei do Livros, conta como a plataforma mudou o seu negócio. “A loja ganha mais visibilidade e possui um alcance que vai além do âmbito regional”.
A Estante Virtual além de ser uma plataforma de vendas, também possui blogs com recomendações literárias, rankings de mais vendidos em cada área de conhecimento, além de um sistema de recomendação de livros com base nas suas compras. Os compradores ainda possuem acesso há milhares de sebos e livrarias e podem destrinchar todo o acervo e fazer filtros por preço, ano, editora e edição. O site ainda oferece um serviço de curadoria baseado em diversos temas, oferecendo aos seus consumidores novas possibilidades de leitura. Recentemente, a empresa foi comprada pelo grupo Magalu por 30 milhões de reais, dando início a uma nova etapa que ainda está por vir.
Livros digitais
Ainda não sabemos se os livros físicos estão com os dias contatos, porém o futuro já se mostra presente e em busca pelo reinado da comercialização de livros. Os livros digitais podem ser lidos em computadores, celulares, tabletes e pela forma mais tradicional, por leitores digitais ou e-readers. Os dispositivos se tornaram atraente por ser uma alternativa mais sustentável, além de ser leve e prático para utilizar no dia a dia.
A Amazon, produtora dos leitores e revendedora dos livros ainda oferece aos seus clientes um acervo com títulos nacionais e internacionais, além de um pacote de assinatura custando 10 reais ao mês que possibilita o leitor ter acesso a milhares de obras em apenas um único clique.
A empresa surgiu com o Kindle em 2007 e a sua primeira versão custava 400 dólares. Hoje, o Kindle está em sua 10ª geração e custa em média 90 dólares, essa queda de preço atraiu ainda mais os entusiastas da leitura em livro físico a migrar para o “papel digital”. Dayvisson Thiago, estudante de Jornalismo, conta o que mudou no seu hábito de leitura após adquirir um e-reader. “Eu tenho a possibilidade de comprar mais livros pelo valor que muitas vezes está pela metade do preço do livro físico, sem contar que posso ler em diversos lugares os livros que seriam maiores e mais pesados. O Kindle ainda me permite ler enquanto estou deitado ou no escuro, porque ele possui iluminação.
Mas se engana quem pensa que não dá para conviver com os dois tipos de livro. “Eu não posso deixar os livros físicos, eles ainda são muito importantes para mim. Como leitor, eu gosto de tocar, sentir o livro, sabe. Mas no momento, eu quero colecionar apenas os livros do Charles Bukowski da editora LPM Pocket, porque o autor é um dos meus favoritos e o formato pocket é como se fosse uma versão light do Kindle, pela sua praticidade.”
De olho na abertura de mercado de leitores digitais, Saraiva e Leitura adotaram seus próprios e-readers. A Leitura anunciou parceria com a canadense Kobo, e os livros da livraria podem ser encontrados no dispositivo. A Saraiva não ficou para trás e também anunciou parceria com uma empresa de e-readers, a europeia Bookeen SAS, o produto também oferece exclusividade nos livros comercializados pela livraria. O crescente investimento na literatura mostra que não apenas o os leitores estão mudando, mas que o mercado está em busca de suprir novas demandas de uma geração mais imediatista e antenada à tecnologia.